terça-feira, 7 de junho de 2011

Os Campos da Discórdia de Irani

Outubro de 1912, as serras e os campos verdes do Irani eram compostos quase por completo de matas virgens, precipícios traiçoeiros, pântanos mortais e cavernas milenares. O panorama era como uma paisagem surrealista dos grandes gênios da pintura francesa. Mas a visão miserável do reduto da irmandade assemelhava-se a uma pintura impressionista do russo Marc Chagall, possuindo purgatórios e os seus infernos sociais numa visão intelectual.
O monge estava encontrando dificuldades para alimentar os membros da irmandade, decide intensificar o ciclo de rezas coordenadas pelas três virgens, assim alimentando a alma e diminuindo o sofrimento do corpo. Vendo a situação de José Maria, o Coronel Miguel Fragoso manda os seus vaqueanos trazerem algumas cabeças de gado, ovelhas e quase duas centenas de galinhas, que viria a auxiliar por vários dias a fome da irmandade.
O líder religioso José Maria morava na casa central do reduto, ao lado direito havia a casa das três virgens e ao esquerdo os demais líderes das famílias. Miguel Fragoso chega com os seus seguidores, informa-o que a tropa mandada pelo governador do Paraná tinha chegado a Irani e se quisesse voltar para o Arraial do Taquaruçú ainda tinham tempo, do contrário iria deixar os seus homens mais bem preparados para ajudá-los no confronto armado.
Nesse momento chega o Coronel Domingos Soares - o famoso pai dos pobres - com um bilhete do Coronel João Gualberto escrito a lápis para o líder José Maria, ordenando que depusessem as armas, ao contrário sofreriam a pena de extermínio, a fim de trazer a ordem e a lei no sertão.
José Maria diz ao Coronel Domingos que desconhece o valor em bilhete escrito a lápis, e se eles queriam guerra teriam a guerra, se por ventura não os deixassem em paz. O Coronel Domingos retorna junto com Miguel Fragoso às tropas do Coronel Gualberto, aconselha-o para não atacar porque estavam muitos bem armados, mas mesmo assim o Coronel resolve avançar.
E às três e trinta da madrugada aproveitando o denso nevoeiro que cobria os campos, ordena a sua tropa avançar para o combate. Ao atravessar um arroio a metralhadora krupp e parte das munições caem na água de um pequeno arroio, sendo recuperado rapidamente. Enquanto no reduto todos rezavam a São João Maria e São Sebastião.
O líder José Maria chama Euzébio Ferreira dos Santos, Manoel Alves de Assumpção Rocha, Chico Ventura e a Delfino Pontes e lhes diz que se viesse a morrer em combate, era para levar todos para o Arraial do Taquaruçú e esperar o seu retorno. Ressuscitaria dentro de um ano e traria junto consigo o exército encantado de São Sebastião para fazer a Guerra Santa.
Nesse momento o reduto é atacado pela tropa do Coronel Gualberto, imediatamente o líder José Maria manda diversos sertanejos para os capões de mato que cercava o local, pede a Chico Ventura levar também as mulheres, crianças e os velhos. O restante dos sertanejos ficou no centro do reduto sob as ordens de Euzébio.
O Coronel Gualberto manda o atirador disparar à metralhadora, mas esta falha, então ordena estender linha e avançar. Enquanto o líder José Maria vinha na frente gritando: - Viva São João Maria! Viva a liberdade! - Todos os sertanejos respondiam possessos também os seus gritos.
Os sertanejos combatem com facões de aço, porretes de três quinas no corpo a corpo, enquanto os outros sertanejos no matagal atiram como loucos contra os soldados. Coronel Gualberto e sua tropa se encontravam presos entre o matagal da esquerda, o Itaimbé da direita e banhada atrás, estava sendo completamente dizimado pelo ataque dos sertanejos, que não tinha nenhuma regra acadêmica em tática de guerra.
O Coronel Gualberto insiste no combate e acaba sendo morto, o seu é corpo estraçalhado por diversas facadas, sobrevivem somente os soldados que fugiram apavorados. Ao fim do combate quando recolhiam a metralhadora, quarenta fuzis e farta munição, foi quando deram conta que o líder José Maria e o Coronel Gualberto estavam entre os mortos no combate.
O novo líder religioso Euzébio Ferreira dos Santos, manda enterrar José Maria e todos os sertanejos mortos, colocam a cruz do reduto na sepultura de José Maria. Euzébio, Manoel, Delfino e Chico Ventura gritam possessos: - Viva São João Maria! Viva São José Maria! O líder Euzébio ordena que os sertanejos sigam-no até a cidade santa de Taquaruçú, porque foi o desejo de José Maria antes de morrer.
No Arraial do Taquaruçú esperariam o líder José Maria ressuscitar, pois falou que traria consigo o exército encantado de São Sebastião e fariam a Guerra Santa contra os Demônios da República. Nesse dia histórico, a ignorância republicana fez criar centenas de focos de incêndios no sertão, levando os humildes sertanejos a uma guerra impossível de vencer.

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