segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

João Maria D´Agostin - O Primeiro Monge

Junho de 1849 desembarca de um barco francês no Porto de Santos, o monge italiano João Maria D’Agostin que segue a pé os caminhos quase intransitáveis da serra do mar, usados pelos tropeiros até a cidade de São Paulo. Em seguida, continua o caminho das tropas de São Paulo até a cidade de Sorocaba, e chega em dezembro do mesmo ano. Em janeiro de 1850, reinicia a sua peregrinação santa, seguindo o caminho das tropas rumo às províncias do Sul. Chega em 1851 na região do contestado, o santo monge curandeiro, alquimista, profeta, místico e profundo conhecedor das ciências ocultas (espécie de médico homeopático).
O monge percorre os arredores e as vilas de União da Vitória, Canoinhas, Porto União, Rio Negro, Itaiópolis, Papanduva, Estiva, Moema, Iracema, Rio das Antas, Rio Caçador, Campos do Irani, Campos de Palmas, Rio das Pedras, Calmon, Três Barras, Serra da Esperança, Morro do Taió, Margens do Rio Canoas, Margens do Rio do Peixe, Curitibanos, Fazenda Corisco, Campos de Lages cumprindo a sua humilde missão de apóstolo do sertão.
O profeta peregrino tinha aproximadamente sessenta e cinco anos, um metro e oitenta de altura, rosto sofrido e pele ressequida pelo sol e frio intenso em suas caminhadas, longa barba e cabelos brancos. Os seus olhos verdes transmitiam uma paz interior e uma personalidade forte e tranqüila. Vestia sempre as mesmas velhas roupas surradas, uma velha sandália de couro nos pés, trazida desde o início de sua santa missão. Um gorro feito manualmente de pele de onça cobria-lhe a cabeça. Carregava consigo um pequeno saco de viagem, onde estavam todos os seus miseráveis pertences. Um rosário de contas de lágrimas atravessa o seu peito, revelando ser muito devoto a milenar crença romana. Os sertanejos identificavam-no em conseqüência da pequena igrejinha que transportava em suas costas, além do desgastado cajado que levava em suas mãos, usado para equilibrar-se nos terrenos acidentados e auxiliar-se do cansaço das longas caminhadas.
João Maria somente pernoitava sob as árvores para se proteger do orvalho. Escolhia locais próximos a uma fonte de água e usava pedras como travesseiro, cobrindo-se com um velho cobertor que sempre carregava. A notícia de que o monge estava nas redondezas das vilas, se espalhava como fogo no sertão e as pessoas o procuravam em busca de remédios e seus benzi mentos, além de presenciarem suas previsões. Os humildes sertanejos sempre traziam algum tipo de comida típica da região, visando agradar o profeta do sertão.
O monge sempre pernoitava poucos dias nos locais, desaparecendo da mesma forma como surgia. O que deixava os caboclos do sertão desesperados, deixando-lhes somente a opção de contar a seus filhos, netos e bisnetos que estiveram com o santo ouvindo seus ensinamentos e suas previsões que permanecem até os dias atuais. Nos locais onde pernoitava eram construídas pequenas capelas que ainda são cultuadas por milhares de devotos das mais variadas idades.
Os remédios ensinados eram à base de raízes, folhas, cascas e de uma infinidade de ervas naturais, quase sempre preparados com aguardente. As previsões deixadas pelo monge e que mais chamaram a atenção: A guerra política e irresponsável dos cem anos na área do contestado; a província de Santa Catarina à frente da do Paraná; - Quando o sertão fosse cortado por estradas de ferro que correria um dragão de fogo dos estrangeiros. Seria uma época de muita injustiça e miséria; - Quando surgissem enormes gafanhotos de ferro, milhares de árvores centenárias seriam consumidas, deixando um vazio no sertão; - Quando os Demônios da República derrubassem do trono o imperador, somente teriam direito às terras, compra de comida e quaisquer outras necessidades se possuíssem o selo do poder herege. Para se prepararem para a chegada da guerra dos quatro anos, onde irmão lutaria contra irmão, pai contra filho, neto contra avô. Seria um tempo dominado pelo Demônio e traria a morte de milhares de caboclos no sertão. Quando viesse o tempo da escuridão, teriam de iluminar sua casa com velas bentas, do contrário seriam devorados pelo fogo do dragão. Para rezar diariamente para Deus perdoar todos os seus pecados, porque o final dos tempos estava próximo. Aproximava-se o momento em que o anjo Gabriel tiraria seus pés da cabeça da besta e ela traria ódio, discórdia e todos os tipos de pecados. Quando grandes cruzes cortassem as matas e desviassem os rios para as vilas, viria um longo tempo da mais completa miséria. E centenas de outras previsões que foram repassadas permaneceram por diversas gerações. Transformando-o no maior santo profeta que caminhou no sertão do contestado.
O miserável e humilde caboclo do sertão sobrevivia em constante carência espiritual, devido à onipresença de padres missionários católicos. Quando surgia algum monge, as pessoas pensavam ser um enviado de Deus que veio para amenizar seus sofrimentos de espírito, curar suas enfermidades e mostrar o caminho ao final dos tempos bíblicos.
João Maria D’Agostin peregrinou os sertões nos anos de 1850 até 1856. O seu percurso foi de Sorocaba em São Paulo até as proximidades da vila de Lages. Retornando em seguida pelo mesmo caminho percorrido e desaparecia novamente em Sorocaba e no Porto de Santos.

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