domingo, 16 de janeiro de 2011

Holocausto Republicano em Canudos

Outubro de 1897, peregrina pelo norte e nordeste do país, o monge místico Antônio Vicente Mendes Maciel - Antônio Conselheiro. Conselheiro cativou inúmeros inimigos na igreja, da elite da sociedade, dos coronéis provincianos e do poder republicano no Rio de Janeiro em suas pregações apocalípticas e em sua teologia nada ortodoxa aos comandantes da miséria.
O bom Conselheiro era um simpatizante da monarquia e achava que o governo republicano era o império do Demônio. Depois de peregrinar todo o sertão árido e miserável do norte e nordeste, chegaria ao sertão da Bahia e fundaria o Arraial de Bom Jesus do Monte Santo, Canudos, Cabobró, Jerempabo, Itapicuru, Jacobina. Diante de milhares de fanáticos que aderem à irmandade de Antônio Conselheiro, forma a sua tropa de elite de vaqueiros e cangaceiros, com o objetivo de manter a ordem nos acampamentos ele decide nomear vários comandantes para uma vindoura guerra contra os Demônios da República.
Estão entre eles, José Venâncio, Pajeú e Lalau, os irmãos Chiquinho e João Mota, Pedrão e Estevão, Joaquim Tranca Pés, Major Sariema, Raimundo Boca Torta, Chico Ema, Norberto, Quinquim de Coiqui, Antônio Fogueteiro, José Gamo, Fabrício de Cocoboró, Velho Macambira e seu filho Joaquim, Vila Nova, João Abade, Antônio Beato, José Félix e Manoel Quadrado. Esses eram os principais homens do monge.
O governo da Bahia envia a primeira expedição militar composta de cem soldados para debandar os fanáticos de Canudos, quase todos inexperientes em combates naquele tipo de terreno. No confronto são mortos cento e cinqüenta guerreiros de Conselheiro e quase cem ficam feridos, enquanto houve somente dez soldados mortos e dezesseis feridos na expedição. Os soldados obrigam-se debandar, do contrário acabariam todos mortos.
A segunda expedição é composta por duzentos e oito soldados e três oficiais da força da Bahia, sob o comando do Major Febronio de Brito. Dias depois, o governador envia mais cem soldados sob o comando geral do Coronel Pedro Nunes Tamarindo para atacar os guerreiros de Conselheiro em duas frentes. As tropas entram em confronto com os guerreiros e novamente são obrigados a fugir para não serem todos exterminados.
A segunda expedição regular era composta de quinhentos e quarenta e três soldados, quatorzes oficiais e três médicos, dois canhões krupp e duas metralhadoras Nordenfeldt. E outra vez, o poder republicano sente o sabor da derrota contra os guerreiros de Conselheiro e os soldados fogem para não morrer nas mãos daqueles miseráveis da sociedade, deixando todo o seu aparato militar.
A terceira expedição regular sob o comando do Coronel Antônio Moreira César, é composta por dezesseis oficiais e mil e trezentos soldados. Novamente as tropas do Coronel Moreira César, são obrigadas a debandar para não serem completamente exterminadas. O Coronel e centenas de soldados são mortos no confronto com os jagunços de Conselheiro e outras centenas ficam feridas. O impiedoso Coronel que fuzilou muitos maragatos no sul do país, enfim sentiu o sabor de seu veneno.
A quarta expedição regular foi enviada pelo Presidente Prudente de Moraes, tendo no comando o General Artur Oscar de Andrade Guimarães, quarenta e seis oficiais e quase sete mil soldados. A expedição militar contra Canudos teve baixa de mais de dois mil e cinqüenta soldados, entre mortos e feridos. Enquanto no lado dos guerreiros de Conselheiro, entre homens, mulheres e crianças foram mais de dez mil mortes, aproximadamente quinze mil são feito prisioneiros.
Participaram os oficiais: Capitão Antônio da Silva Paraguaçu, Major Lidio Porto, Capitão Afonso Pinto de Oliveira, Major Henrique José de Magalhães, Coronel Joaquim Manuel de Medeiros, Capitão Napoleão Felipe Aché, Capitão Tito Pedro Escobar, Capitão José Soares de Melo, Coronel Inácio Henrique de Gouveia, Capitão Leopoldo Barros e Vasconcelos, Capitão Alberto Gavião de Pereira Pinto, Major Henrique Severiano da Silva, Capitão Pedro de Barros Falcão, Coronel Emídio Dantas Barreto, Capitão João Carlos Pereira Ibiapina, General Carlos Frederico de Mesquita, Tenente Afrodísio Borba, Capitão Antônio Afonso de Carvalho, Coronel Antônio Olímpio da Silveira, General João da Silva Barbosa, Capitão José Lauriano da Costa, Capitão Francisco Moura Costa, Major Florismundo Colatino dos Reis Araújo Góis, Capitão Furtunato de Sena Dias, Coronel Donaciano de Araújo Pantoja, Capitão Altino Dias Ribeiro, General Fernando Setembrino de Carvalho, Capitão Joaquim Gomes da Silva, Major João Pacheco de Assis, Major Manuel Nonato Neves de Seixas, Coronel Antônio Tupi Ferreira Caldas, Major Aristides Rodrigues Vaz, Alferes João Batista Pires de Almeida. - Coronel Antônio Moreira César, Major Rafael Augusto da Cunha Matos, Capitão José Agostinho Salomão da Rocha, Capitão Pedreira Franco, Coronel Sousa Meneses, Coronel Pedro Nunes Tamarindo, Tenente Domingos Alves Leite, Tenente Alfredo do Nascimento, Capitão Joaquim Quirino Vilarim, Dr. Ferreira Nina, Coronel José Américo C. Souza Velho, o guia Manuel Rosendo, Capitão Alberto Gavião Pereira Pinto, Tenente Marcos Pradel de Azambuja, Capitão Felipe Simões, Coronel Carlos da Silva Teles, Coronel Julião Augusto da Serra Martins, General João da Silva Barbosa, General Cláudio do Amaral Savaget, Coronel Campelo França, Major Carlos de Alencar, Coronel Thompson Flores, Capitão Trogilio de Oliveira, Alferes Marques da Rocha, Capitão Martiniano de Oliveira, Capitão Nestor Vilar Barreto Coutinho, Coronel Sucupira de Alencar Araripe, Coronel Virgínio Napoleão Ramos, Capitão José Luís Buchele, Capitão Salvador Pires de Carvalho Aragão, Coronel Siqueira de Meneses, Coronel Antonino Melo, Capitão Joaquim Pereira Lobo, General Miguel Maria Girad, Coronel Bento Tomás Gonçalves, Marechal Carlos Machado Bittencourt, Coronel Joaquim Elesbão do Reis, Coronel João César Sampaio, Coronel José da Cruz, Coronel Firmino Lopes Rego, Coronel Antônio Bernardo de Figueiredo, Major Frederico Mara, Coronel José Sotero de Meneses, Tenente Cândido José Mariano, General Carlos de Andrade Guimarães, Marechal Floriano Peixoto.
No fogo do combate dos expedicionários com os guerreiros, mediante tantas perdas do lado republicano, quase três mil mortes foram à base de degola, após se entregarem aos oficiais republicanos. Entre os mortos estavam todos os chefes e Antônio Conselheiro. Deste último, tiram sua fotografia para apresentar como troféu no coliseu republicano de Salvador e do Rio de Janeiro, provando que tinham exterminado o líder dos miseráveis e dos excluídos da sociedade republicana, marcando a história do Brasil, com essa vergonha imperdoável e desumana.
Na recepção dos expedicionários de Canudos, os adversários políticos tentam matar Prudente de Morais no porto do Rio de Janeiro. O Marechal de Ouro Carlos Machado coloca-se diante do Presidente, salvando-lhe a vida, mas morre minutos depois junto com o assassino.
O jornal “O Estado de São Paulo”, envia Euclides da Cunha, com o objetivo de cobrir a campanha de Canudos. Mas antes de enviar as informações à sede do jornal, as reportagens passam por uma malha fina e só depois são liberadas para serem telegrafadas. Após o término da revolta, os trechos das reportagens proibidas são reunidos no livro: “À Margem da História”, obra póstuma. O fato de Euclides da Cunha saber demais e no futuro revelar a verdade determina sua morte a 15 de agosto de 1909, como a famosa queima de arquivo.
A maioria dos prisioneiros da guerra de Canudos, imediatamente é enviada para a construção da Ferrovia no Sul do país, tendo a promessa de liberdade ao término da obra. A vinda dos jagunços de Conselheiro acenderia o fogo místico e de revolta contra a República, fazendo transformar os simples caboclos do sertão em ferrenhos guerreiros de São João Maria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário