quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

As Cabeças do Dragão Republicano

Abril de 1914, frente o desastre militar no reduto de Caraguatá, o Tenente Coronel José Capitulino Freire Gameiro é dispensado da 11ª região militar, sendo provisoriamente substituído pelo Tenente Coronel Adolpho de Carvalho. O Ministro da guerra, General Vespasiano de Albuquerque, designa para assumir o comando geral da região militar em Curitiba, o General Carlos Frederico de Mesquita.
Assim que assume o comando, procura inteirar-se com o Coronel Carvalho dos mais recentes acontecimentos na região contestada, lê atentamente todos os relatórios militares das expedições contra os fanáticos. Em sua primeira revista às tropas, inteira-se do estado lastimável das fardas militares, pois não existia nenhuma reserva de uniforme. As armas desgastadas pelos muitos anos de uso, a artilharia já estava ultrapassada, o estoque de munição estava praticamente à zero.
O General Mesquita convoca uma reunião urgente, com o governador Felippe de Santa Catarina, Carlos Cavalcânti e Afonso Alves de Camargo do Paraná, teriam de comparecer imediatamente à região militar. O objetivo da reunião era buscar os seus apoios nas localizações de redutos rebeldes, também solicitar dois vaqueanos de inteira confiança, com o objetivo de infiltrar-se na irmandade de São Sebastião. Após entrarem na irmandade, os espiões legalistas informariam a quantidade total de rebeldes, as suas defesas e fraquezas, seus planos e localizações na região do contestado.
Coronel Felippe antecipando-se a esse detalhe importante, traz consigo para Curitiba, o Capitão Henrique Wolland – Alemãozinho, oficial da inteligência militar de Santa Catarina, e Antônio Tavares Júnior, ex-secretário de gabinete do governador. Informa ao General, que os dois eram as pessoas ideais para infiltrar-se entre os fanáticos, tinham coragem e não se intimidavam com o cheiro de perigo, levando a missão até o fim.
Antônio Tavares conta ao General Mesquita, que já tinha recebido proposta de um líder, Bonifácio José dos Santos - Bonifácio Papudo, para montar um reduto nos arredores de Canoinhas. Prontifica-se em apresentar o Alemãozinho aos demais líderes, assim facilitando a missão. O Coronel entrega-lhes dez contos de réis, visando suprir as suas primeiras despesas.
General Mesquita alerta o Coronel Felippe, que necessitariam de outro espião, seria o elo entre eles e a inspetoria, assim correriam menos perigos de vida. O Coronel informa-o, que entraria em contato com o Coronel Albuquerque da vila de Curitibanos, pedindo um de seus homens de confiança para se infiltrar também entre os fanáticos. O novo espião deveria se identificar como Carneirinho, assim passar todas as informações a eles, que faria com que chegasse a segurança até Canoinhas ou Curitiba.
Alemãozinho e Antônio Tavares embarcam no trem de passageiros, aconchegando-se num dos muitos bancos da 2o classe. O maquinista da locomotiva puxa a corda do apito, que soa estridente na estação de Curitiba, informando aos passageiros atrasados, que a mesma estava de partida para a região do contestado.
A sorte estava lançada para os dois espiões do poder republicano, o imprevisto estaria em suas vidas diariamente. As forças poderosas da realidade republicana começavam a traçar a armadilha do século, jogando muitos humildes sertanejos a uma vida miserável e outros tantos ao juízo final, o apocalipse de sua própria simplicidade e ignorância.

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